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Gatos e novo coronavírus, causador da Covid-19: reflexões para médicos veterinários

Um publicado em um site que funciona como um repositório de textos que ainda não foram veiculados em revistas e periódicos científicos afirma que gatos infectados com o novo coronavírus, causador da Covid-19, podem infectar outros gatos.

A pesquisa foi pautada em um experimento, que consistiu em inocular, via nasal, uma alta carga viral de SARS-CoV-2 (Covid-19) em uma população de gatos filhotes. Os gatos que foram infectados pelo novo coronavírus foram mantidos próximos a gatos não infectados.

Após a publicação do estudo no site, o assunto se tornou viral na internet, especialmente nas redes sociais. Diante desse fato, muitos profissionais emitiram um sinal de alerta para que a população não tire conclusões precipitadas. Isso porque, apesar da pesquisa ter sido veiculada no site, ela ainda não foi validada e publicada por uma revista científica. Antes da publicação em periódicos científicos, os artigos passam pelo crivo rigoroso de especialistas no assunto, o que comprova ou não a validade do estudo.

Essa avaliação não ocorreu com a pesquisa apresentada no início do texto e, por isso, o desenho experimental é tido como falho. No estudo, não foram apresentados dados laboratoriais que atestassem a saúde dos filhotes de gato, bem como o status dos animais para viroses felinas. 

É necessário ressaltar ainda que nenhum dos gatos apresentou sinal clínico após a inoculação experimental do vírus, bem como não havia material genético do vírus nos pulmões dos gatos. Esse último fato é bastante intrigante, uma vez que o novo coronavírus causa problemas e lesões no tecido pulmonar dos humanos.

Um outro ponto a ser considerado é que, conforme descrito no estudo, os pesquisadores não conseguiram coletar swabs nasais dos gatos, pois o comportamento dos animais foi descrito como 'muito agressivo'. Desse modo, percebe-se que os cuidados de bem-estar não foram tomados durante a realização do experimento.

Além do estudo, um relato sobre a identificação do SARS-CoV-2 em amostras de um gato doente na Bélgica se espalhou pela internet. Nesse caso, a história foi apresentada por meio de notícias e não é possível avaliar qual foi a metodologia empregada para afirmar que o animal estava infectado pelo novo coronavírus.

O CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) indica que os pacientes confirmados ou com suspeita de Covid-19 não entrem em contato com cachorros, gatos e demais animais de estimação. Entretanto, essa recomendação é sempre preconizada para qualquer doença infecciosa emergente até que descobertas científicas determinem a suspensão ou a manutenção das medidas. 

Diante de todos os fatos expostos, considerando que não existem evidências científicas que os gatos possam, em condições naturais, se infectarem e serem uma fonte de transmissão do novo coronavírus para humanos, os médicos veterinários precisam assumir uma postura de combate ao abandono e ao sacrifício desses animais. Além disso, é dever desses profissionais impedir a veiculação e a disseminação de notícias e informações que não possuam uma sólida base científica.

(Com informações do documento publicado pela Profª. Drª. Aline Santana da Hora e pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo Brandão.)